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Texto: QUANDO EU FINALMENTE SEREI CAPAZ DE INCORPORAR?
10/08/2020 12:59 em Umbanda

Já fazia quase 10 anos que Giovana trabalhava naquele terreiro. 9 anos, 5 meses e 23 dias, para ser mais exato, ela sabia de cor a conta. Era cambone, auxiliava os guias e os consulentes nos muitos atendimentos que presenciava.

 

Todos a estimavam. Seu conhecimento era grande, sua experiência era produto de longos anos no chão do terreiro. Sabia como realizar todos os rituais da Umbanda. Em caso de dúvida, era a ela que recorriam. Quando algo inesperado acontecia na gira, conseguia lidar muito bem com a situação. E sempre possuía uma palavra de orientação a quem procurava sua ajuda. Até mesmo os médiuns mais velhos pediam seus conselhos.

 

Porém, ninguém sabia que Giovana carregava uma grande tristeza no coração. Apesar de tantos anos e tanta dedicação, nunca conseguira incorporar. Ela já teria desistido de sua mediunidade, mas as entidades do terreiro sempre lhe diziam que ela era uma grande médium, que deveria ser paciente  pois chegaria o dia em que conheceria os guias que a acompanham. 

 

Com o tempo, o desânimo foi ganhando força. Já não tinha mais tanto prazer em servir à espiritualidade. A repetição a entediava, as atividades pareciam sem sentido e a ideia de sair da religião se tornou frequente. Naquele dia, ela estava decidida que seria sua última gira no terreiro. Pediria agô às entidades, diria a mãe de Santo que precisava de um tempo para se cuidar.

 

Foi uma noite incomum. Primeiramente, muitos médiuns anunciaram que estariam ausentes. A dirigente adoeceu, os trabalhos seriam abertos pelo pai pequeno. A consulência, lotada. Quando olhou para as pessoas que buscavam atendimento, teve um péssimo pressentimento. Sentiu que alguma coisa negativa sondava aquele lugar.

 

Poucas horas após a abertura, sua intuição se confirmou. Subitamente, alguns indivíduos que aguardavam o momento do seu passe caíram no chão e começaram a se contorcer. Era um clara manifestação de espíritos obsessores. Os médiuns de atendimento, por outro lado, estavam ocupados com casos igualmente difíceis. Giovana não teve alternativa a não ser ela mesma agir. 

No momento em que se aproximou dos kiumbas, imediatamente soube que falar. Não pensava nas palavras, apenas as soltava à medida que fluíam em sua mente. Ao mesmo tempo, estendia as palmas das mãos em direção aos consulentes caídos. Sentia um calor passando pelo seu corpo da cabeça às pontas dos dedos. E, dessa maneira, conseguiu normalizar o andamento da cerimônia da noite.

Mais tarde, próximo do encerramento, um dos pretos pediu para conversar com ela. Disse-lhe “minha filha, em todas estas luas que trabalhou aqui, sua mediunidade sempre foi uma das mais fortes desta casa. Moça não precisa fazer girador para fazer caridade. Seus guias estão contigo e você tem transmitido suas palavras para todos que buscam seus conselhos. O axé deles está você, minha filha. Já os conhece há tempo que até esqueceu o que é viver sem as bênçãos dele".

Giovanna compreendeu. Na próxima gira, ela seria vista mais uma vez naquele abençoado terreiro, com forças renovadas. Seria perceptível a alegria que ela irradiava naquele trabalho. Nunca mais pensara em abandonar a querida Umbanda. Estava decidida a exercer sua missão enquanto sua matéria suportasse.

Saravá a todos!

 texto: umbandacomsimplicidade

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