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Reflexão: Início da Umbanda
Um pouco de história
Publicado em 03/11/2019

Leal de Souza, poeta, escritor e jornalista foi dirigente 

da Tenda Nossa Senhora 

da Conceição, considerada 

por José Álvares Pessoa, 

uma das tendas mestras. 

Numa entrevista publicada no Jornal de Umbanda, em outubro de 1952, relatou: A Linha Branca de Umbanda é realmente a Religião Nacional do Brasil, pois que, através de seus ritos, os espíritos ancestrais, os pais da raça, orientam e conduzem suas descendências. O precursor da Linha Branca foi o Caboclo Curuguçu, que trabalhou até o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas que a organizou, isto é, que foi incumbido  pelos guias superiores, que regem o nosso ciclo psíquico, de realizar na terra a concepção do Espaço.

 

No Brasil, também no século XIX, a Umbanda encontrou solo previamente preparado para seu advento. A Proclamação da República (vejam só: a antiga Constituição do Império, de 1824, consignava o Catolicismo como “Religião do Império”), a Abolição da escravatura, a popularidade da doutrina e da prática do Espiritismo foram eventos próximos no tempo e em alguns de seus desdobramentos.

 

Após a promulgação da Lei Áurea, centenas de escravos se viram ainda mais desvalidos; expulsos das fazendas, ocuparam desordenadamente os sítios urbanos sem nenhuma política de inserção social – sem ter onde trabalhar, onde morar, como subsistir. Um enorme contingente humano, marginalizado, aglomerou-se nos subúrbios, nos embriões das favelas, nas sombras hostis dos cortiços e becos das cidades, juntamente com mestiços e brancos de condição desfavorecida. Nessas comunidades, a miséria moral instalou-se ao lado da miséria material: estava formado o ambiente propício para a disseminação de charlatanismos, feitiçarias, superstições e toda sorte de rituais distorcidos e dirigidos para trabalhos do mal, de prejuízo aos desafetos ou obtenção de bens materiais. Segundo Matta e Silva, “toda essa complexa mistura, que o leigo chama de macumba, baixo espiritismo, magia negra, envolvendo práticas fetichistas e barulhentas ... era a situação existente, quando surgiu um vigoroso movimento de luz, ordenado pelo Astral Superior, feito pelos espíritos que se apresentaram como Caboclos, Pretos Velhos e Crianças”. No Plano Astral, ou na Espiritualidade, como queiram, inúmeros espíritos que foram - em vida terrena - escravos, índios e mestiços almejavam manter intercâmbio com seus irmãos encarnados; a prática do bem, o tratamento dos enfermos, a transformação de sentimentos e pensamentos (aliviar os carentes, encorajar os excluídos, abrandar os endurecidos) eram aspirações que os impeliam ao serviço de caridade. Entretanto, essas entidades não encontravam acolhida ao desenvolvimento de seu trabalho: ou se deparavam com casas voltadas a práticas pouco recomendáveis, ou recebiam o estigma de “manifestações demoníacas” pelos irmãos católicos, ou então eram “convidadas” a se retirarem de centros espíritas: antigos escravagistas e seus descendentes se viam em situação desconfortável perante espíritos de negros e índios que foram por eles aprisionados, torturados (e até mortos) manifestando-se durante os trabalhos espirituais da religião codificada na França e trazida ao Brasil pelo segmento da sociedade brasileira que enriqueceu – direta ou indiretamente - às custas da exploração do trabalho desses irmãos. Orgulho, vaidade e remorso “torciam os bigodes” da nata da sociedade que compunha grande parte das mesas espíritas. Foi nesse contexto que, em atividades mediúnicas sediadas em diversas localidades brasileiras, ocorreram várias manifestações de entidades espirituais anunciando a chegada de um movimento religioso renovador, trazendo um sopro de esperança, amor e fé. A entidade conhecida como Caboclo Curuguçu (ou Curugussu), da linha de Ogum, apresentou-se durante alguns anos, coordenando o trabalho de vários outros colaboradores espirituais que traziam a mesma mensagem. Alguns autores afirmam que o termo “Umbanda” já era citado em algumas dessas comunicações; outros, por sua vez, declaram que, além de anunciar a chegada da Umbanda, o Caboclo Curuguçu dizia ser emissário da raça vermelha “pura”, ou seja, que os caboclos que coordenam o movimento umbandista atual, na Espiritualidade, não são os indígenas da época da colonização ou seus remanescentes, mas espíritos muito evoluídos da antiga raça vermelha, que viveu nesta terra há milênios. Polêmicas à parte, o que provavelmente a Espiritualidade pretendia era preparar corações e mentes para o advento de   uma nova forma de expressão da devoção e da fé.

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