Bons questionamentos, serão sempre acompanhados de ótimos debates e de divergentes posicionamentos, para que este processo ocorra de maneira adequada e satisfatória torna-se necessário o embasamento das diferentes visões, a fim de que mantenham bom senso e o respeito pela opinião alheia. É o que tentaremos propor neste post, uma discussão no melhor sentido que possamos pensar e vivenciar, analisar as diferentes opiniões e claro salientarmos as nossas ponderações acerca do tema.
Antes de adentrarmos objetivamente na questão, pensamos ser necessário a conceituação dos pressupostos básicos desta pesquisa. Ressaltamos que tais conceitos são expressões generalistas e não tratam, pelo menos aqui, de maneira mais abrangente e minuciosa, mas para o nosso breve estudo entendemos serem suficientes tais elucidações seguintes.
MONOTEÍSTAS: O Monoteísmo é a crença em uma única divindade, ou seja, em um único Deus que é onipotente, onisciente e onipresente, não deixando de lado nenhum dos aspectos da vida terrena. Dentre as religiões mais conhecidas das monoteístas estão, Judaísmo, Cristianismo e o Islamismo
POLITEÍSTAS: O Politeísmo é a crença em vários Deuses que atuam nos diferentes aspectos naturais (chuvas,ventos, raios, rios e matas) ,institucionais (política e governo) e das relações humanas (características psicológicas e comportamentais). Algumas das mais conhecidas crenças Politeístas são as africanas, gregas e romanas antigas, podemos colocar também neste quesito o Hinduísmo.
PANTEÍSTAS: O Panteísmo é diferente das duas apresentadas, podemos considerar nesta crença a presença de um Deus em todos os aspectos do universo, segundo o "Livro as Religiões”... "Aqui a principal convicção é que Deus, ou a força divina, está presente no mundo e permeia tudo o que nele existe..." As religiões atreladas a esta categoria são as chamadas primitivas, como por exemplo, Xamanismo, Druidismo e Xintoísmo...
Como podemos definir a Umbanda diante dos expostos? Seria ela Monoteísta? Politeísta? Panteísta? Definir este quadro não é algo necessariamente simples, este é um olhar muito pessoal e subjetivo segundo nossas impressões, como geralmente fazemos, lembrar da história e constituição do movimento umbandista pode ajudar-nos a entender este quadro.
A Umbanda anunciada e instituída pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas em 1908, através do médium Zélio de Moraes preconizou Jesus Cristo e seu evangelho de amor fraterno como base para prática da caridade espiritual, juntamente à este processo foram incorporadas e sistematicamente absorvidos ao rito mediúnico espíritos das mais diversas culturas e crenças, assim surgiam as ressignificações ou sincretismos com outras religiões, do próprio Catolicismo então religião oficial do estado herdamos os Santos, datas festivas e o Evangelho de Cristo, também dos europeus absorvemos as práticas espíritas dos seguidores de Allan Kardec e de sua codificação , do povo nativo herdamos o culto a natureza e as práticas Xamânicas, dos africanos o culto aos Orixás, outras culturas espiritualistas orientais também contribuíram para esta formação.
Lembremos que este foi o ponto de partida de um processo que estava em pleno desenvolvimento pelo processo histórico atravessado pelo Brasil desde quando os europeus aqui aportaram, sendo produto da miscigenação de povos que formavam a população brasileira, neste sentido vemos no excelente artigo de Roger Taussig Soares - professor da FTU-Faculdade de Teologia Umbandista no blog Religião e Espiritualidade, suas considerações explicam muito claramente este período...
"...A Umbanda é uma religião brasileira, cujas raízes históricas antecedem ao marco do mito fundador construído em torno de Zélio Fernandino de Morais. De fato, houve um período de transição no qual começaram a surgir elementos típicos da Umbanda nos cultos originais de ascendência africana, ameríndia e européia. As manifestações de espíritos ancestrais por meio da mediunidade de incorporação marcou a passagem dos cultos de nação para aquilo que viria a se compor como o movimento umbandista. Com o surgimento de espíritos de caboclos, pretos-velhos, exus e outros, modificaram-se os valores originais daquelas culturas ao mesmo tempo que se aproximaram as tradições por meio do sincretismo. O resultado foi a constituição de um sistema de crenças brasileiro de caráter peculiar, tanto em termos de práticas litúrgicas como da metafísica ou cosmologia. Uma das singularidades da Umbanda se encontra na forma de enxergar as hierarquias divinas..."
Concordamos com o exposto do professor Roger Taussig e neste sentido percebemos na Umbanda as categorizações que conceituamos no início do texto, enquadrá-la na categoria de Religião Monoteísta não seria um erro tendo em vista as heranças da cultura católica e cristã. Neste sentido as relações com o Politeísmo também ocorre pela crença e culto aos Orixás africanos, dos nativos indígenas temos as contribuições Panteístas.
É importante sabermos que os processos sincréticos ocorridos para formação do movimento umbandista contribuem nesta conceituação, porém, entendemos que outros fatores são importantes nesta reflexão, após sua fundação, a Religião de Umbanda espalhou-se por todo território brasileiro em velocidade e características próprias, esses desdobramentos são muito bem explicados nos livros História da Umbanda no Brasil de Diamantino Fernandes Trindade, e em História da Umbanda de Alexandre Cumino. O culto umbandista em determinadas regiões do Brasil foi assimilado e incorporado juntamente em outras religiões, assim estabelecendo novas correntes de pensamentos e interpretações sobre o sagrado, destes "casamentos" surgiram uma gama enorme de Umbandas, como define Alexandre Cumino em seu livro explicando as pluralidades ritualísticas e interpretativas existentes na religião. Algumas destas correntes, listamos a seguir a fim de entendermos este universo:
Umbanda Branca
Umbanda Pura
Umbanda Popular
Umbanda Esotérica ou Iniciática
Umbanda Trançada, Mista ou Omolocô.
Umbanda de Caboclo
Umbanda de Jurema
Umbandaime
Umbanda Eclética
Umbanda Sagrada ou Natural
Umbanda Cristã - Fundada por Zélio de Moraes.
Mas o que as diferentes formas de expressão da religião podem ter haver com a questão proposta ? Alguns podem pensar ser um erro tal comparação ou interpretação, nós não ! Esses desdobramentos que acarretaram em novos posicionamentos e diferentes formas de pensamento e "escolas umbandistas", iniciaram discussões à partir das orientações que seus núcleos formadores sustentavam como base, pensamos por exemplo, quando alguém ligado a um desses movimentos expressam pontos de vistas estariam representando a corrente ou a Umbanda do qual são ligados, não em um sentido separatista ou oponente mas no sentido do livre pensamento muito peculiar na religião. Tais diferenciações nas opiniões percebemos e trazemos para este estudo complementando nossas observações.
Vemos neste primeiro exemplo de Roger Taussig Soares - professor da FTU-Faculdade de Teologia Umbandista, no artigo Monoteísmo ,politeísmo e anteísmo na Umbanda publicado no citado blog. Mesmo admitindo seu caráter fundamentado em um Deus único e seus demais aspectos classificados numa hierarquia estruturada, assimila a questão como "aberta" pois são muitas as possibilidades de entendimentos.
"...Atualmente vemos novamente a Umbanda reavivando as discussões acerca do Sagrado e uma importante síntese foi proposta por F. Rivas Neto, fundador da FTU - Faculdade de Teologia Umbandista, com o título de "A Vertente Una do Sagrado".De acordo com o ilustre sacerdote umbandista, existiria uma estrutura básica para a teogonia da maioria das religiões que demonstram uma funcionalidade como abaixo descrita:
Divindade Suprema ou Realidade Última
Potestades Divinas (inclui os Orixás, os Arcanjos e demais seres primordiais)
Ancestrais Ilustres (seres humanos divinizados)
Humanidade
Natureza
Como a Umbanda é uma "unidade aberta", nas palavras de F. Rivas Neto, esses conceitos não são definitivos e têm sido continuamente explorados e aprofundados. Enquanto subsistem as noções de sagrado e de profano, a religião umbandista avança na expectativa de ampliar a compreensão do sagrado e unir essa ponte..."
No mesmo sentido de que a Umbanda é regida por um Deus único colocando-a na posição Monoteísta, Rubens Saraceni principal pensador e idealizador da Umbanda Sagrada ou Natural por seus estudos e livros doutrinários traz a seguinte afirmativa, do texto (Umbanda é Monoteísta - por Rubens Saraceni).
"...Na Umbanda, todos os seus seguidores crêem na existência de Deus e não questionam a sua existência e nem o inferiorizam, colocando-o ao mesmo nível das divindades Orixás, e sim, o entendem e o situam como o divino criador Olorum, que tudo criou e que criou até os Sagrados Orixás.
O entendemos como a Origem de tudo e como o Sustentador de tudo o que criou e confiou a gover-nabilidade dos Sagrados Orixás, os governadores dos muitos aspectos da Criação e estados da Criação.
Acreditamos na existência dos seres divinos e os entendemos como nossos superiores mas em nenhum momento os situamos acima do divino Criador Olorum, ou como iguais ou superiores a Ele...
A Umbanda é monoteísta, mas tal como acontece em todas as outras religiões, ela também crê na existência de um universo divino, povoado por seres divinos que zelam pelo equilíbrio da criação e pelo bem estar dos seres espirituais criados por Deus, o divino criador Olorum..."
Diante de universos "parecidos" mas não iguais, vemos um certo aspecto de cautela e cuidado na definição de qualquer conceito na primeira situação proposta, em seguida um parecer bem similar ao anterior mas sendo direto ao ponto de definição com argumentos sustentadores. Nossa posição diante dos pensamentos expostos está em reconhecermos a capacidade UNIVERSAL de absorção que a Umbanda possui, é neste sentido que entendemos onde ela enquadra-se expandindo, facilitando e ajudando milhares de pessoas que recorrem nela uma possibilidade de melhoria espiritual e consciencial.
Onde existe para o mesmo significado diversas explicações, existem também clareza, criatividade e bom senso de idéias, fator proveniente da não uniformização da Doutrina, da qual torcemos para que nunca ocorra. Definir a Umbanda como Monoteísta, Politeísta, Panteísta ou sejam lá quais forem os "ístas" existentes na face da terra, é dispensar seu caráter UNIVERSAL que reside nela e serve muito bem para todos homens e incluí-la nas classificações de teorias que explicam as religiões a partir de suas diferenças, importantes no sentido científico para os pesquisadores pode ser um fator limitador no entendimento geral sobre ela.
REFERÊNCIAS E LINKS
O Livro das Religiões História da Umbanda
História da Umbanda no Brasil
01- http://www.triangulodafraternidade.com/2011/03/um-estudo-sobre-os-orixas-na-umbanda.html
02-http://www.umbandadochico.com.br/blog/2012/04/29/umbanda-monolatria-monoteismo-panteismo-ou-politeismo/
03- http://www.xr.pro.br/religiao.html
04 -http://blog.ftu.edu.br/2009/03/monoteismo-politeismo-e-panteismo-na.html
05- http://www.colegiodeumbanda.com.br/