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Revelação! Presidente e destaque da Portela fazem contato com Clara Nunes
07/02/2016 22:36 em Sociedade

Para a maioria dos torcedores da Portela, Clara Nunes é inesquecível. Para o presidente da escola e seu principal destaque de carro alegórico, a mineira é imortal. Numa entrevista reveladora e exclusiva aoSambarazzo, Serginho Procópio e Carlos Reis confidenciam um segredo que, há mais de três décadas, vinha sendo mantido em sigilo: Clara Nunes continua desfilando na Portela, mesmo após sua morte, em 1983.

 

Por Alice Fernandes e Luiz Felippe Reis

Para a maioria dos torcedores da Portela, Clara Nunes é inesquecível. Para o presidente da escola e seu principal destaque de carro alegórico, a mineira é imortal. Numa entrevista reveladora e exclusiva aoSambarazzo, Serginho Procópio e Carlos Reis confidenciam um segredo que, há mais de três décadas, vinha sendo mantido em sigilo: Clara Nunes continua desfilando na Portela, mesmo após sua morte, em 1983

O dirigente revela conversar com a cantora através de uma médium de incorporação, enquanto o principal componente de alegorias portelenses tem o dom de ver Clara Nunes.

carlos reis e serginho procópio foto irapuã
Destaque principal da Portela, Carlos Reis sempre vê Clara Nunes nos desfiles da escola, desde 1984, quando a cantora já estava morta. O espírito da mineira aparece pra ele no Setor 1 do Sambódromo carioca. Presidente da azul e branco, Serginho Procópio também já cruzou a Avenida com Clara, através de uma médium, que o dirigente prefere não relevar quem é I Foto: Irapuã Jeferson

Procópio e Reis sempre reservaram os detalhes da história a amigos mais íntimos, tamanho o peso da informação, e também por respeitarem a desconfiança de quem segue outras crenças – os dois são espíritas. Mas, após um descobrir que o outro estabelecia alguma forma de comunicação com a cantora de sucessos como “Conto de Areia”, “O Mar Serenou” e “Morena de Angola”, inclusive em plena Marquês de Sapucaí, durante o desfile portelense, o choque da “coincidência” acabou motivando a divulgação do curioso fato.

clara nunes - foto livro
A cantora Clara Nunes visitava com frequência a quadra da Portela. Carlos Reis ainda sente a energia da artista no espaço de ensaios e eventos da azul e branco de Madureira I Foto: Divulgação/Livro Clara Nunes, Guerreira da Utopia, de Vagner Fernandes

Neste Carnaval, a Portela segue para seu 33° ano sem Clara Nunes viva. Ela morreu em abril de 1983, após sofrer um choque anafilático proveniente de uma cirurgia para tratamento de varizes, realizada no Rio de Janeiro. A morte da artista chocou o país e, sobretudo, os portelenses, que fizeram questão de dar o último adeus à cantora, que teve o corpo velado na quadra da Portela, em Madureira.

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O último adeus! Cinquenta mil pessoas foram à quadra da Portela, em 1983, para se despedir da cantora portelense I Foto: Reprodução/Wikipédia

“Ela está sempre rindo, com a mão levantada. Tenho certeza que não tô sonhando”, afirma Carlos Reis, que vê Clara Nunes todos os anos no desfile da Portela

Se Clara Nunes deixou saudades em todos, a perda precoce da artista, que morreu aos 40 anos e tinha fortes ligações com a azul e branco, foi sempre mais amena para Carlos Reis. Toda vez que desfila pela Portela, do alto do carro alegórico ele avista Clara Nunes. Sempre no mesmo lugar – em frente à primeira arquibancada do Sambódromo carioca – e trajando a mesma roupa: de branco, com arranjo de flores coloridas na cabeça e cabelos soltos.

– Como eu tô numa altura que dá pra ver muito bem quem tá na Avenida, sempre vejo ela do lado direito, em frente ao Setor 1. O carro virou, e é naquela esquina. Ela olha direto, tá sempre rindo e com a mão levantada. Eu tenho certeza que não tô sonhando nem viajando nessa história. Como eu sou espírita também, e tem muita coisa que eu vejo também, eu vejo sempre ela. Sempre. Não vou dizer que eu já vi no ensaio técnico, mas vejo no desfile, desde 1984. Nunca faltou a nenhum desfile. Ela está sempre de branco, aquela roupa branca que ela usava de babado, com flores coloridas na cabeça com o cabelo solto – relata Carlos Reis, que só consegue enxergar o espírito de Clara após concluir um ritual de orações em cima do carro alegórico.

serginho procópio - irapuã interna
Serginho Procópio estabeleceu o primeiro contato com Clara Nunes após assumir a presidência da Portela: “Chorei muito”, diz I Foto: Irapuã Jeferson

Desde que assumiu a Portela, em 2013, Serginho Procópio conversou várias vezes com o espírito de Clara Nunes: “Ela sempre desfila na escola”, reforça o presidente

– Eu não vejo a Clara. Outras pessoas veem, e existe uma médium, que desfila na escola, que incorpora a Clara, e eu já tive a oportunidade de conversar com a Clara. E ela sempre desfila na escola. Tem três anos que eu a conheço, desde que entrei pra presidência da Portela. No dia que eu fui apresentado à Clara, ao espírito da Clara, eu chorava igual criança, chorava muito. Essa pessoa que incorpora a Clara me chamou pra ir à casa dela, e eu fui. Chorei muito no primeiro encontro. Quando cheguei, ela disse que alguém queria me conhecer, ela foi me explicando, dizendo que a mãe era médium, e eu fui me assustando um pouco. Me levaram até ela, e, quando a Clara surgiu, não sei explicar, foi uma energia, uma claridão… Eu chorei muito, nossa – narra.

O escolhido! Numa conversa com Clara através de uma médium, Procópio ouviu da cantora que fora escolhido para presidente por figuras que marcaram a história da Portela, como Candeia, fundador da escola

– Ela disse que queria que eu estivesse lá (no comando da Portela). Disse que eu fui escolhido pelos ancestrais da Portela. Foi uma semana tentando lembrar de tudo (do primeiro encontro). É uma energia que corre em todos, que é inexplicável – acrescenta.

Apesar de conseguir conversar com o espírito de Clara Nunes, Serginho Procópio mais ouve do que pergunta nos encontros, que algumas vezes acontece fora do Rio de Janeiro. E afirma seguir os conselhos da eterna “guerreira”, com quem desfilou, através da médium que Serginho Procópio prefere não revelar quem é, de braços dados no último Carnaval.

– Procuro não falar muito sobre isso, esse negócio de religião não dá pra misturar. Procuro não me aprofundar nisso. A vida tem que seguir o ciclo. A gente não tem que procurar saber o que vai acontecer, porque pode não acontecer, e aí vai culpar o espírito. A gente tem que trabalhar, procurar fazer o melhor. Meu último encontro foi no Carnaval, eu cheguei na concentração abraçado com ela no desfile. Não fico buscando isso, é uma coisa natural. Foram três vezes de conversa. No desfile do ano passado, no ensaio técnico de 2015 e na minha sala, no barracão – completa Procópio.

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Susto! Foi esta a sensação que Carlos teve quando viu Clara na Sapucaí quando a cantora já havia morrido I Foto: Irapuã Jeferson

Carlos Reis também sente a presença de Clara na quadra da Portela

O destaque principal da Portela já não estranha mais fazer contato visual com o espírito de Clara Nunes, que, segundo o próprio, não aparece na escola apenas no dia do desfile: ela também continua frequentando os ensaios de quadra, em Madureira.

– Fico sempre na expectativa. Sempre tenho certeza que ela vem (na Avenida). Eu subo no carro, faço minhas orações e chamo por Clara. Quando me coloca no queijo (espaço da alegoria), ela tá sempre lá. Na primeira vez, eu chorei. Virou um hábito, acostumei já. A Clara não está só no desfile. Ela está na quadra também. Nunca a vi na quadra, mas sinto a presença da Clara. Teve um show na velha guarda que passei pelo palco, e senti a energia da Clara. Pedi uma água e disse pros meninos da quadra que senti a presença de Clara. Eu acho que a Clara era um orixá vivo – opina.

Serginho e Carlos já haviam conhecido Clara Nunes viva. O presidente na infância. Carlos a conheceu na Avenida, um ano antes da morte da cantora I Foto: Irapuã Jeferson

Tão logo assumiu a Portela, Serginho pensou em desistir do cargo. Mas, a pedido de Clara, seguiu na missão de comandar a escola ao lado do vice-presidente Marcos Falcon

– As pessoas que são ligadas ao espiritismo têm essa coisa mais sensitiva. Ela queria dar força pra gente, num momento que a gente estava perdido, sem saber o que fazer, e ela queria dar essa força. Eu nunca tinha sido um gestor de nada, um administrador. Sempre fui ligado à música, sou músico, sou compositor. Então pra mim era um desafio muito grande, me senti perdido logo no início. Minha vontade era sair. E nesse momento eu conheci a Clara, me dando força. Ela conversou que tudo ia se acalmar, pra que eu não tomasse essa decisão. Que a Portela precisava de mim, precisava de todos… – emenda.

Giane Procópio, mulher de Serginho que também acompanhou a entrevista do marido ao Sambarazzo, participou da primeira “reunião” com o espírito de Clara Nunes.

– Foi uma conversa bem longa. Ela (Clara) explicou o tempo dela na Portela, o porquê daquele momento, que seria a nova era da Portela, que a escola estava ficando esquecida, e que era preciso aquele mutirão de todos os lados pra fazer renascer a Portela. Ela disse que o Serginho era uma pessoa escolhida pra estar lá – conta Giane.

Serginho Procópio e Carlos Reis conheceram Clara antes da morte da cantora

Carlos Reis não era ligado a Carnaval e pouco se importava com a festa. Mas certa vez, a convite do atual companheiro, resolveu aparecer na Sapucaí. Foi quando conversou com Clara Nunes, ainda viva, pela primeira vez:

– Em 1983, cheguei na Avenida, não gostava de Carnaval, fiquei vendo aquela mulher em frente à ala das baianas falando ‘vamos mostrar quem é a campeã do Carnaval’, e sempre com muita energia. E eu fiquei olhando aquela mulher linda, porque ela era muito bonita, com a pele muito bonita. E eu fiquei olhando, aí ela veio na minha direção, e disse: ‘Você desfila na Portela?’, aí eu falei: ‘Não, imagina’. Eu nem curtia Carnaval. Na concentração, não conhecia nada, não entendia nada de Carnaval. Meu companheiro sempre foi portelense doente, ele comprava ingresso, só pra ver a Portela, e ia embora. Mas ela me chamou pra ver o que era uma verdadeira escola de samba. Tava no lado dos Correios, ela, o marido (o compositor Paulo César Pinheiro) e a Elizeth Cardoso (cantora). Eu apaixonado, olhando aquela mulher no meio das baianas, levantando o astral de todo mundo. Ela viu que eu tava olhando e veio na minha direção e falou: ‘Você vai me prometer uma coisa. Ano que vem, você vai desfilar na Portela, tá bom? Promete!’. Eu fiquei meio bobão, fiquei balançando a cabeça, aí ela virou de costas e falou ‘Prometeu!’. Aí, em 83, logo depois do Carnaval, ela foi operar, entrou em coma e faleceu. E eu fiquei com aquilo na cabeça de ter prometido e desfilei.

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Carlos Reis e Serginho Procópio só decidiram revelar o contato espiritual com Clara quando descobriram que os dois mantinham alguma relação com a cantora I Foto: Irapuã Jeferson

Na entrada da Avenida, passei por ela e tomei aquele susto: “Mas a mulher já morreu!”, lembra Carlos Reis

No ano seguinte da morte de Clara, ainda impressionado com a forma como a sambista o convocou para participar dos desfiles da Portela, Carlos Reis começou a bater ponto nos carnavais da escola. Ele recorda o choque que tomou ao se deparar com a cantora na Sapucaí em seu ano de estreia na Portela, quando ela já estava morta.

– Desfilei em uma ala, a ala do almirante. Quando eu estou passando na Avenida, o enredo era Clara Nunes, “Contos de Areia” (tema que rendeu o título mais recente da Portela, em 1984). Na entrada da Avenida, eu passei por ela e tomei aquele susto: ‘Mas a mulher já morreu’. Aí, comecei a chorar o tempo todo. Ela permaneceu lá na frente da escola. Comentei com meu companheiro, eu não tinha ligação com ela. É muito assustador. Eu tava desfilando, porque eu prometi que ia desfilar. Desde de que eu tô desfilando, ela nunca faltou a um desfile da Portela. Eu acredito tanto que quando eu estou muito em dificuldade, não só em termos de desfile na Portela, eu recorro à ela. De alguma forma, clareia a situação pra mim. O portelense sentiu muito a morte da Clara – frisa.

Serginho Procópio: “Acredito que outras pessoas vejam Clara”

Serginho Procópio conheceu Clara Nunes quando era menino, numa festa na casa do irmão, no subúrbio carioca, que reuniu grandes nomes da Portela.

– Ela foi na festa de 15 anos do meu irmão mais velho, eu devia ter uns 7, 8 anos. Meu pai (Osmar do Cavaco) já havia tocado com ela algumas vezes. Foi ela, o Candeia, foi em Marechal Hermes. E foi aquela festa que vocês podem imaginar, samba a noite inteira. Festa de São Sebastião, tinha festa da bateria, ela ia sempre lá. Ela irradiava muita energia, com um sorriso no rosto – lembra.

O sambista e dirigente acha que outras pessoas sensitivas como ele e Carlos Reis já tenham tido alguma experiência semelhante com o espírito de Clara Nunes:

– Acredito que outras pessoas entre nós tenham outras histórias, acredito que outras pessoas vejam. Me preocupo com essa entrevista aqui, porque qualquer pessoa que estiver comigo de braços dados na Sapucaí vão dizer: ‘Olha lá a Clara’. No desfile, normalmente eu fico muito nervoso, e ela me passa essa calma. Eu sou um cara muito emotivo, fico muito, muito, muito tenso. E quando entrei com ela (com a médium de incorporação que recebe o espírito de Clara Nunes), embora estivesse emocionado, eu estava mais calmo. É a energia dela. É tão boa a energia, que fico mais tranquilo.

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Abençoados! É como os dois se sentem pelo fato de poderem ter, de alguma forma, contato com Clara Nunes, 33 anos após a morte da sambista mineira I Foto: Irapuã Jeferson

Serginho Procópio e Carlos Reis não se consideram especiais por conseguirem, de alguma forma, estabelecer contato com um dos maiores nomes da música brasileira e da história da Portela. Mas, na condição de seguidores da doutrina espírita e enquanto portelenses, eles se consideram honrados.

– Me sinto abençoado. Entre o céu e a terra tem muita coisa. Eu sou espírita, mas a melhor religião é fazer o bem sem olhar a quem – pontua Reis.

– Não sei explicar, fico honrado – conclui o presidente da Portela, que assim como Carlos Reis se emocionou em diversos momentos da entrevista, que aconteceu no Parque Lage, no Rio de Janeiro.

FONTE> http://sambarazzo.com.br/e-ai-noticias/revelacao-presidente-e-destaque-da-portela-fazem-contato-com-clara-nunes/

 
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